quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Borboleta


Dentro deste casulo, estou limitada
Encarcerada em uma prisão de fibras
Quando o único crime concreto que cometi antes
Fora destruir algumas poucas folhas
E queimar alguns poucos dedos

Antes deste casulo
Oh, Céus, quantas cores eu tinha!
Cheia de pelos urticantes
Eu por aí vagava, sonhando com os lugares
Para onde meu fogo me levaria

E eu, que achava que viver fosse fácil
Acabei pregada em uma enfadonha vertical
Dependente, viciada, acorrentada
Prisão fibrosa
Que aos poucos meus órgãos modificava

Eu, que aprendera que respirar seria simples
Nunca senti o sabor de ser simples como o ar que inspiro
E acabei grudada na tua porta
Sem fôlego
Presa no mais profundo dos sonos

E eu, insatisfeita com minhas realidades,
Abri meus olhos, contra a vontade do casulo que me envolvia
E jurei aos céus que tornar-me-ia adaptável
Não me tornei.
E passei a me sentir vermelha num universo de brancos

E eu, logo eu,
Que jurara ser a felicidade sinônimo de ser igual aos outros insetos
Olhei à minha volta, com os olhos ainda abertos
E aquelas fibras fizeram eu me sentir drama, sangue, fogo, imensidão
Num mar de insetos cíclicos e previsíveis

E então voei,
O casulo em que eu dormia de olhos abertos rompeu-se
Abri as asas e passei a viver tudo,
Toda a vida simples e colorida que é ser uma transformação abulante

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